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Migrações dos povos bárbaros

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Migrações na Europa entre os séculos II e V: Visigodos (castanho); Vândalos (verde); Lombardos (azul); Godos (vermelho); Ostrogodos (castanho-claro); Anglos (amarelo); Hunos (preto).
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Migrações na Europa entre os séculos II e V: Visigodos (castanho); Vândalos (verde); Lombardos (azul); Godos (vermelho); Ostrogodos (castanho-claro); Anglos (amarelo); Hunos (preto).

Na História da Europa, dá-se o nome de invasões bárbaras, ou período das migrações, ou a expressão alemã Völkerwanderung [fœlkvandəruŋ], à série de migrações de vários povos que ocorreu entre os anos 300 a 900 a partir da Europa Central e que se estenderia a todo o continente. A referência aos bárbaros, nome cunhado pelos Romanos para designar os povos nómadas que não partilhavam os seus costumes e cultura (nem a sua organização política), induz o leitor, incorrectamente, na hipótese que as migrações implicaram violentos combates entre os migrantes e os povos invadidos. No entanto, a história provou que nem sempre assim foi, já que os bárbaros já coexistiam pacificamente com os cidadãos do Império nos anos que antecederam este período.

Destacam-se, neste processo, os Godos (originários do sudeste europeu), os Vândalos e os Anglos (da Europa Central), entre outros povos germânicos e eslavos. Os motivos que despoletaram estas migrações, em todo o continente são incertos: talvez como reacção às incursões dos Hunos, pressões populacionais ou alterações climáticas.

Os historiadores modernos dividem este movimento migracional em duas fases. Na primeira, de 300 a 500, assistiu-se a uma movimentação de povos maioritariamente germânicos por toda a Europa, colidindo, portanto, com as várias regiões ocupadas pelo Império Romano. Foram os Visigodos os primeiros a eclodir com o Império — na verdade, os Visigodos foram inicialmente contratados para ajudar na defesa das fronteiras do Império, mas mais tarde seriam responsáveis pela invasão da península Itálica; de imediato, seguiram-lhes os Ostrogodos, liderados por Teodorico.

Na segunda fase, entre os anos 500 e 700, assiste-se ao estabelecimento progressivo dos Eslavos na Europa do Leste, tornando-a predominantemente Eslava, num movimento iniciado pela ocupação da região da actual República Checa.

Os Búlgaros eram estabelecidos em Europa pelo século II. No século IV a parte deles migrou do Cáucaso do Norte a Arménia. Em 632 estabeleceram a Grande Bulgária (Η παλαιά μεγάλη Βουλγαρία nos crónicas romanas) no território entre o Cáucaso e o Danúbio. No século VII as partes dos Búlgaros migraram também ao Baviera, ao Itália, ao Panónia e ao Macedónia. Em 681 o Reino Búlgaro expandiu aos Balcãs ao sul de Danúbio, e no século IX era o berço da Eslavo Eclesiástico e alfabeto cirílico, que nos séculos subseqüentes foram espalhadas aos estados europeus medievais tais como Rússia, Croácia, Sérvia, Valáquia, Moldávia, etc.

Já excluído do período de migrações, mas ainda na Baixa Idade Média, formam-se ainda movimentos migratórios, nomeadamente o dos Magiares, para a Panónia, e, mais tarde, dos Turcos para a Anatólia e do Cáucaso (século XI), e ainda a expansão dos Vikings a partir da Escandinávia, ameaçando o recém-estabelecido Império Franco na Europa Central. No século VIII os árabes tentaram invadir Europa do sudeste, mas foram derrotados por Khan Tervel de Bulgária e por imperador roman Leo III em 717, e desviaram sua expansão à Península Ibérica.

Índice

[editar] Circunstâncias

Os limites do Império Romano no século IV, portanto já dividido em duas metades (Ocidente e Oriente), faziam fronteira com várias culturas não romanizadas: na África, os Berberes e as tribos do Sudão, a norte, desde a península escandinava em direcção ao mar Negro, na região além do Reno e o Danúbio, os Germanos, populações tipicamente nómadas. Estes povos foram genericamente designados pelos Romanos como povos bárbaros, numa clara alusão ao facto de não partilharem o mesmo nível civilizacional e costumes de Roma. No entanto, estes grupos já conheciam estes aspectos do Império e, inclusive, alguns transitavam livremente para dentro e fora das fronteiras. Várias tribos germanas chegaram a instalar-se pacificamente no interior do Império chegando mesmo a integrar o exército romano, quer como soldados quer como mercenários, contribuindo reciprocamente na defesa das fronteiras. Este fenómeno ganhou particular dimensão após a crise do terceiro século. Por volta do ano 400, 30 ou 50 porcento do exército romano era composto de mercenários germânicos. Sem outra saída, alguns grupos bárbaros foram alistados no exército de Roma como unidades inteiras para ajudar na defesa contra outros grupos. Isso foi muito popular durante as guerras civis do século IV, quando aspirantes ao trono romano precisavam levantar exércitos rapidamente. Essas unidades bárbaras mantinham seus próprios líderes e não tinham a lealdade e a disciplina das legiões.

Vivendo em solos pouco férteis, os Germanos dedicavam-se, sobretudo, ao pastoreio embora, à data do contacto com os Romanos, já se dedicassem ao cultivo de cereais. As terras não cultivadas pertenciam à tribo, enquanto que as casas e mobiliário eram propriedade privada; as terras de cultivo eram sorteadas equitativamente de ano a ano entre as famílias, embora no século II este tipo de propriedade passasse a ser propriedade familiar, apenas alienável pelo consentimento de todos os membros da família. Organizavam-se politicamente através de um rei, escolhido de uma família particular (considerada de origem divina), embora a autoridade estivesse formalmente nas mãos de uma assembleia de homens livres e com idade suficiente para usar armas. Nos tempos de guerra, era eleito um general que detinha todo o poder. Por esta altura, os Germanos coexistiam pacificamente com o Império: os utensílios e moedas encontrados em túmulos germanos provam a existência de relações comerciais entre as duas civilizações, principalmente nas regiões entre o Elba e o Mediterrâneo, ao longo do vale do Reno, e pelo Vístula e mar Negro.

Durante o século III, os Germanos tomam contacto com o Cristianismo, provavelmente devido aos prisioneiros capadócios levados à região dos Godos. Com efeito, tem-se conhecimento de Ulfila representar, algures no século IV, o grande apóstolo deste povo. Através de Ulfila, os Godos aderem ao Cristianismo na sua forma ariana, considerada herética na altura. Porém, esta vertente cristã ir-se-ia difundir rapidamente entre os Germanos, Vândalos, Gépidos e Alamanos.

As relações entre bárbaros e romanos não se limitavam, contudo, à esfera comercial e cultural: o exército romano ia-se transformando num corpo profissional profusamente incorporado por mercenários que, sucessivamente, ia substiuindo as legiões e a aristocracia chegando mesmo a ingressar na família imperial — um filho de Teodósio II desposou a filha do vândalo Estilicão. A sucessiva falta de mão-de-obra no campo obrigava o Império a permitir a entrada destes povos, formando assim assentamentos caracterizados distintamente: os federados, ligados a Roma por um contrato, aos quais era permitida a preservação dos costumes, organização social e política, em troca da prestação de serviço militar. No decorrer do século IV estes tratados de federação aumentavam substancialmente, na tentativa de vencer a crise que se aproximava.

O progressivo desmembramento do Império, aliado ao incremento da corrupção e escassez de meios para controlar e fortificar as fronteiras, levaram à canalização do esforço defensivo para as regiões críticas do Império, como a própria capital. Como consequência, as fronteiras tornavam-se cada vez mais instáveis e, finalmente, devido à pressão dos Hunos oriundos de nordeste, as populações bárbaras adensaram a penetração no Império, na tentativa de manterem-se protegidas.

[editar] A instabilidade de Roma

A estrutura administrativa do Império dependia fortemente dos tributos que impunha aos novos vencidos: além de uma forma de pagar as despesas da guerra, eram também impostos como medida de benevolência ou castigo pela resistência durante as conquistas. A paralização das conquistas tinha igualmente paralisado o afluxo destes impostos (que iam diminuindo progressivamente). No século III tinham já diminuído consideravalmente e no século seguinte já se haviam esgotado.

Na tentativa de contrapor a crise, é organizado um pesado sistema de impostos, e ditada uma lei que obrigava a hereditariedade das actividades exercidas, o que significa que as profissões eram herdadas pelos filhos do actual funcionário. Os filhos de soldados sucediam os pais nas fileiras, os colonos mantinham-se fixados ao solo que cultivavam. O êxodo urbano dos aristocratas, paralelamente à formação das castas, provocou o surgimento no Ocidente de senhorios rurais, as villae, que constituiram o principal quadro da vida económica e social da época, e antecederam o feudalismo.

No ano 395 o Império Romano é formalmente dividido duas partes: o Oriente, com as províncias mais ricas e populosas, e o Ocidente, em acelerada decadência. Por esta altura, alguns bárbaros coexistiam pacificamente no interior do Império; no entanto, no século V dá-se um afluxo exorbitante de povos em busca de protecção contra os Hunos que se mobilizavam em direcção à Europa latina. Caroline Alves Carreta

[editar] Na Europa Ocidental

[editar] Os Hunos

O Império Huno prolongava-se das estepes da Ásia Central até à Germânia (actual Alemanha), e do Danúbio ao mar Báltico.
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O Império Huno prolongava-se das estepes da Ásia Central até à Germânia (actual Alemanha), e do Danúbio ao mar Báltico.

Segundos alguns cronistas chineses, os Hiong-nu (Hunos) seriam povos nómadas que constituíam uma ameaça constante ao Império Chinês. Foi para se proteger dos seus ataques que a dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.) construiu a Grande Muralha. Ainda assim, a China do Norte foi devastada e, mais tarde, com a chegada dos novos invasores mongóis, os Hunos deslocaram-se para oeste, abrindo caminho pelas planícies russas derrotando os Alanos e os Sármatas e, por volta de 370, cruzaram o Volga e o Don, confrontando os germanos Ostrogodos, já sedentarizados. O escritor latino Amiano Marcelino descreve o pânico provocado nas regiões invadidas destes homens de pequena estatura e pele escura que, incapazes de se fixarem fosse onde fosse, se deslocavam constantemente, arrastando consigo as famílias, instaladas com todos os seus haveres em carroças.

Depois de se desembaraçar do seu irmão Bleda, o khan (rei) dos Hunos, Átila, inicia o governo das hordas hunas, a partir de 434. O historiador grego Prisco, que teve ocasião de o conhecer pessoalmente numa embaixada, deu destaque à simplicidade e sentido político deste homem, cujas lendas a respeito o caracterizam como barbaramente selvagem.

No século V, os Hunos abandonam o nomadismo, instalando-se nos territórios balcânicos, onde tomam conhecimento do avanço tecnológico o estilo de vida das civilizações helenizadas. Por esta altura, Honória, filha da imperatriz Gala Placídia, decide vingar-se do seu banimento pelo irmão Valentiniano III, enviando a Átila uma carta na qual promete desposá-lo em troca da sua ajuda. Sabe-se que em 443 chegaram diante de Constantinopla e, em 448, penetram na Grécia até às Termópilas. Para conter os temíveis invasores, Teodósio II é obrigado a pagar-lhes um tributo anual.

No entanto, sem razão aparente, Átila volta-se para Ocidente e, em 451 atravessa o Reno, destrói Metz e Troyes. É por esta altura que surge a lenda da Santa Genoveva que incita os parisienses à resistência. Porém, Átila ignora Paris e sitia Orleães, cuja queda lhe permitiu entrar em contacto com o reino dos Visigodos. No entanto, é Aécio que trava o khan, e que, com a ajuda de Teodorico I, rei visigodo da Aquitânia, consegue unir os Romanos, Francos, Alanos e Burgúndios na batalha dos Campos Catalúnicos (Junho de 451), forçando os Hunos a uma retirada para a margem oposta do Reno.

Invasão da Itália pelos Hunos.
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Invasão da Itália pelos Hunos.
Encontro de Átila com a Papa Leão I.
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Encontro de Átila com a Papa Leão I.

Átila refez suas forças e, no ano seguinte, move-se em direcção à península Itálica, apoderando-se de Aquileia e devastando Milão, Feltre, Pádua e Pavia, cujas populações se refugiam nos Apeninos. O próprio imperador Valentiniano III abandona Ravenna para se refugiar em Roma. Observando a incapacidade do imperador romano de defender o território, o Papa Leão I confrontou pessoalmente Átila em Mântua numa conversa cujo teor nunca foi descrito, logrando fazê-lo desistir de invadir a cidade em troca de um tributo considerável. Muitos atribuíram o fato de Roma ter sido poupada à intercessão milagrosa do Papa Leão I. Ao que parece, o medo da peste, as superstições de Àtila e um compromisso com o imperador Valentiano II livraram a Cidade Eterna do saque. Átila morreria a 455, antecipando o colapso do império huno.

Em 463 chegaram à península itálica os Daneses, de seguida os Hérulos e, finalmente, os Ostrogodos liderados por Odoacro (com batalhas em Isonzo e em Verona). Ressalva-se também uma deslocação dos Francos em 594 para o norte de Itália, com violentos confrontos.

[editar] Ostrogodos

Mapa do reino Ostrogodo no seu auge, sob Teodorico.
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Mapa do reino Ostrogodo no seu auge, sob Teodorico.
Ver artigo principal: Ostrogodos.

Derrotados pelos Hunos, parte dos Ostrogodos conseguiu fugir para oeste, aliando-se aos Visigodos, enquanto que a restante passou a integrar, tal como os Alanos e Sármatas, a poderosa cavalaria huna. Também os Visigodos seriam derrotados pelos Hunos e, sem escapatória, pediram asilo nas terras do Império Romano, que seria consentido pelo imperador Valente. Dava-se a entrada de todo um povo ameaçado pelos hunos, como prelúdio para as grandes invasões. A penetração foi pacífica, porém os romanos passaram a explorar, de forma sórdida, os visigodos. Estes se rebelaram e surpreendentemente venceram os romanos na Batalha de Adrianópolis (378).

O Imperador do Ocidente, Graciano, concedeu terras aos visigodos, adotando uma política amigável que deu certo, até por volta de 406, quando a Itália foi invadida pelos suevos, vândalos e burgundios.

A 482, Teodorico, rei dos Ostrogodos, conseguia fixá-los na Mésia, província situada ao norte da península balcânica.

[editar] Burgúndios

Ver artigo principal: Burgúndios.

Estas movimentações seriam imitadas por diversos outros povos, dos quais se destacam os Burgúndios, cujos domínios na margem esquerda do Reno seriam destruídos pelos Hunos em 437, sendo obrigados a deslocar-se para oeste, na região do alto vale do Ródano, entre Lyon e os Alpes. O rei Gondicário e a maior parte dos seus guerreiros foram chacinados de forma atroz; pensa-se que este facto estará na origem provável dos poemas heróicos dedicados à morte dos reis burgúndios, cujas reminiscências se encontram nos Edas nórdicos. Combinados com a lenda de um herói mítico, Siegfried, os Edas deram origem, no século III, ao Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos) e nos quais, já no século XIX, Richard Wagner se inspirou para um ciclo de quatro óperas, O Anel dos Nibelungos.

Nos finais do século V, o reino burgúndio estendia-se da actual Borgonha ao baixo vale do Ródano e das Cévennes à Suíça Ocidental. Em 532 foram finalmente submetidos pelos Francos, e o seu território anexado à Nêustria.

[editar] Alanos, Suevos e Vândalos

Saque de Roma pelos Vândalos, em 455.Heinrich Leutemann.
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Saque de Roma pelos Vândalos, em 455.
Heinrich Leutemann.
Ver artigos principais: Alanos, Suevos, Vândalos.

A 406, os Alanos, Suevos e Vândalos atravessaram a fronteira do Reno. Entre 407 e 409, a Gália foi saqueada por Alanos, Suevos e Vândalos, que logo de seguida (409-411) se apoderaram da Hispânia. Estilicão foi obrigado a chamar as legiões estacionadas na Bretanha e na Gália do norte, acabando assim com o domínio romano sobre a Bretanha.

Esses povos bárbaros fundariam na África, em 429, o primeiro reino independente em solo do Império. Os Suevos seriam empurrados pelos Alanos para noroeste, fixando-se na Galécia, enquanto que os segundos foram etnicamente absorvidos pelos Vândalos em direcção a África. É nesta movimentação que os Vândalos, sob a liderança de Genserico, sitiam a cidade africana de Hipona, onde morreria o Santo Agostinho, em Agosto de 430, e ocupam Cirta e Cartago, ao cabo de grande resistência; apoderam-se em seguida das Baleares, da Córsega, da Sardenha e da Sicília. Potenciados pelas divergências religiosas da sua vertente ariana contra o catolicismo romano, os Vândalos confrontar-se-iam daí para a frente várias vezes com o Império, chegando mesmo a saquear Roma, em 455. Em 470, o império mediterrânico dos Vândalos estende-se do Norte de África às ilhas mediterrânicas.

A dominação Sueva seria terminada pelos Visigodos aquando da sua invasão bárbara da Península Ibérica, enquanto o reino vândalo seria conquistado por Belisário.

[editar] Visigodos

O reino Visigótico.
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O reino Visigótico.
Ver artigo principal: Visigodos.

Enquanto isso, os Visigodos, chefiados por Alarico I, revoltaram-se novamente contra a exploração dos funcionário romanos em 401. Entraram na península Itálica e invadiram a planície do Pó, mas foram repelidos. Em 408 atacaram pela segunda vez e desta vez chegaram às portas de Roma. O chefe godo entrou em Roma (24 de Agosto de 410) e pilhou a capital do império (ver Saque de Roma). Depois de três dias de saques, em 27 de Agosto, Alarico partiu para o Sul da Itália, com o objetivo de atingir a África, no entanto os seus planos foram gorados com a perda da frota e a sua morte precoce. Seu substituto, Ataulfo, estabeleceu-se na Gália e estendeu os seus domínios até à Península Ibérica, conseguindo afastar os Alanos e os Vândalos. Ataúlfo instala a sua base em Bordéus e torna-se aliado dos romanos.

A pedido do imperador Flávio Augusto Honório, invadem a Hispânia (418), onde se instalam como federados. Para conquistar o domínio da península Ibérica, os Visigodos tiveram que enfrentar Suevos, Alanos e Vândalos que já se haviam aí fixado. Em compensação, obtêm de Roma o direito de se estabelecer no sudoeste da Gália.

Após a morte de Teodorico I, na batalha dos Campos Catalúnicos (451), os seus filhos Teodorico II e Eurico alargam as possessões que, em 476, se estendiam já do Atlântico aos Alpes do Sul, e do Loire a Gibraltar.

Os Visigodos foram gradualmente empurrados da Gália pelos Francos, perdendo o seu reino de Tolosa, embora subsistindo na península Ibérica até 711, data em que se deu início a uma invasão muçulmana que os confinou a um pequena região nas Astúrias.

[editar] Anglos, Saxões e Jutos

Ver artigos principais: Anglos, Saxões, Jutos.


Em meados do século V, os Saxões, os Anglos e os Jutos abandonaram o norte da Germânia e a Península da Jutlândia para invadir a Britânia, já evacuada desde o início do século V. A região foi submetida por esses povos que, apesar da feroz resistência, empurram os Bretões para o lado ocidental. No sul, os jutos fundaram o Reino de Kent. Também no sul, os saxôes fundaram os reinos de Essex, Wessex e Sussex. Os anglos se estabeleceram no norte e centro, onde fundaram os reinos de East-Anglia, Northumbria e da Mércia. Os reinos independentes dos Anglo-Saxões ir-se-iam tornar rivais entre si. Mais tarde, a região foi conquistada pelos Vikings.

[editar] Hérulos

O último imperador romano do Ocidente, Rômulo Augustulo, tinha sua autoridade praticamente restrita à cidade de Roma. Os bárbaros hérulos, que faziam parte do exército romano, depuseram-no em 476, colocando no poder seu chefe, Odoarco, que se intitulou rei da Itália. Assim acabou-se definitivamente a autoridade do Império Romano do Ocidente. Essa data marca oficialmente a Queda do Império Romano, assinala o fim da Idade Antiga e o início de Idade Média.

[editar] Francos

Ver artigo principal: Francos.

A Gália, no centro da Europa, que já assistira à passagem de muitos dos povos germânicos que migraram durante este período, já vinha sendo assediada pelos Francos desde o século II. Em grande parte devido à sólida estrutura política, souberam sobreviver à fase das migrações, e fixavaram-se definitivamente na Gália Belga (Renânia, Bélgica e Artois), a cerca de 430, também com o consentimento do Império Romano, como federados, ajudando a defender as fronteiras, durante algum tempo; destaca-se a aliança de Childerico I com o Império contra os Visigodos. Com efeito, foi a primeira dinastia de reis francos, a dos Merovíngios, que conseguiu erradicar a presença alamana, burgúndia e visigótica (na batalha de Vouillé em 507, que marcou o fim do reino visigótico de Toulose). Começava assim, subtilmente, a expansão do império Franco, anexando vários territórios vizinhos. O seu rei Clóvis (482-511), converteu-se para o cristianismo e promoveu uma aliança com a igreja.

[editar] Repercussões

Ver artigo principal: Queda do Império Romano.

Enquanto o desmembramento do Império se tornava inevitável — em 455 os Vândalos de Genserico pilharam Roma; os Visigodos, Suevos e Burgúndios declaram-se independentes em 476; o chefe Odoacro depõe o último imperador do Ocidente, Rómulo Augusto, e envia as insígnias imperiais ao imperador do Oriente — os Bárbaros assimilavam a língua e grande parte dos costumes romanos, enquanto introduziam, mais ou menos harmoniosamente, os hábitos e termos germânicos.

Tijolo com o emblema de Teodorico, encontrado no Templo de Vesta, em Roma.
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Tijolo com o emblema de Teodorico, encontrado no Templo de Vesta, em Roma.

Terminava assim o Império do Ocidente. No entanto, a civilização persistia: as instituições políticas, como o Senado e o Consulado subsistiram entre os bárbaros. Em 493, o chefe ostrogodo Teodorico tomou o poder na Itália, fazendo-se reconhecer como representante legítimo do imperador bizantino. Permaneceram intactos o estatuto do latim como língua oficial e as estruturas sociais; o grande obstáculo agora eram as diferenças de religiões: o choque entre o Catolicismo e o Arianismo.

Não obstante, de 456 a 472, o Império Romano revelava a sua fragilidade, denunciada pelas movimentações bárbaras: durante este período, foram sucessivamente nomeados e destituídos vários imperadores. Em 475, é Orestes, um panónio outrora ao serviço de Átila, que faz nomear imperador o seu filho de 12 anos, o jovem Rómulo Augusto, que reinou escassos meses, até que Odoacro, chefe dos mercenários instalados na Itália, organiza uma revolta que culmina na deposição de Rómulo, que é relegado para a Campânia. Era a queda definita do Império Romano.

Só graças à reconquista da Itália pelos exércitos bizantinos é que o imperador Justiniano I conseguiria restabelecer a unidade imperial, reconquistando também o norte de África e parte da Hispânia; o reino Vândalo era, portanto, destruído (534), enquanto que na península Ibérica a monarquia visigótica era seriamente enfraquecida.

As medidas de Justiniano durariam pouco tempo. Na verdade, o enfraquecimento das regiões reunificadas seria a principal causa para o impacto do surgimento do Islão, cujas repercussões se verificaram na península Ibérica e no corte de ligações entre as duas metades do Império Romano.

[editar] Legado

[editar] Arte

Embora este período seja considerado um período de decadência artística, os estudos recentes confirmam que houve, de facto, alguma expressão, inserindo-a portanto como ramo da arte pré-românica. No caso particular da arte visigótica[1], esta exprimiu-se na península Ibérica desde a entrada dos Visigodos (415) até à invasão muçulmana da Península Ibérica. Na Gália, entre os finais do século V e os finais do século seguinte, assiste-se a um incremento do número de mosteiros, que passa de 40 para 250, embora de uma forma geral, a arquitectura civil em pedra pareça ter quase estagnado.

Porém, e ainda no século II, surge um interesse artístico particular em peças em ouro e com incrustações de pedras preciosas por parte dos Godos, possível legado dos Cítias e Sármatas, e mesmo alguma influência romana, reconhecida popularmente entre os Hunos. A produção artística consiste sobretudo de jóias (broches, anéis, brincos, fíbulas ou alfinetes, colares), placas e fivelas de cinto. Este período fornece também alguns objectos de culto: relicários, cruzes e coroas, com técnicas de trabalho do metal muito refinadas. A damasquinação consiste em incrustar, por martelamento, um fio de ouro, prata ou cobre, numa superfície de cobre ou prata. A joalharia cloisonnée consiste em desenhar uma série de alvéolos separados por pequenas peças metálicas a uma placa de metal.

Talvez os melhores exemplos sejam os achados na Roménia (em Pietrarossa), como esta grande águia. Os Godos portaram este estilo à Itália, Gália e Hispânia e, um exemplo disso, é esta coroa votiva de Recesvinto, rei de Toledo, de cerca de 670, encontrada em Fuente de Guarrazar, perto de Toledo, que não se destinava a ser usada, mas sim exposta numa igreja. A popularidade deste estilo policromático pode ser confirmada pela descoberta de uma espada no túmulo de Childerico I, rei dos Francos, data do século V.

[editar] Literatura

Na literatura, destacam-se poetas como Rutílio Numaciano (Rutilius Numatianus) que, no seu poema «De reditu suo in patriam libri II» descreve o seu regresso de Roma à Gália; Merobaude (Flavius Merobaudes), um retórico hispânicoLaus Christi»). Entre os historiadores, destaca-se Paulo Orósio (Paulus Orosius), também hispânico que nos fala da história da criação do mundo, tema muito popular na Idade Média, em «Adversus paganos». Na teologia, Próspero de Aquitânia (Prosperus a Aquitania) compôs «De ingratis», um poema moralista com fim didáctico, e o Papa Leão I (Leo I Summus Pontifex), profundo pensador, que deixou Sermões e Epístolas

Em 438, torna-se memorável o Código de Teodósio, publicado em Constantinopla. Ainda antes da morte de Teodósio II, é divulgada a Consultatio, uma colecção de pareceres legais da época. Na gramática, Fábio Plancíade Fulgêncio (Fabius P. Fulgentius) deixou «Mithologicon libri III», «Virgiliana continentia» e «De Abstrusis sermonibus», e Fulgêncio (Fulgentius), que escreveu «De aetatibus mundi», um tratado teológico. Na verdade, durante o reinado de Teodósio, surgem grandes representantes de actividade intelectual: Anício Mânlio Torquato Severino Boécio (Anicius Manlius Torquatus Severinus Boetius), que escreveu «De consolatione philosophiae», Magno Félix Enódio (Magnus Felix Enodius), autor de um panegírico a Teodorico e de outros trabalhos poéticos, Prisciano (Priscianus) escreveu «Institutiones grammaticae», Êutiques (Eutyches), «Ars de verbo», e M. Aurélio Cassiodoro (Magnus Aurelius Flavius Cassiodorus) cuja produção durou além dos seus registos públicos: as «Chronica», sobre História Universal, «Historia Gothorum», «Lectiones divinae» e «Institutiones divinarum et saecularium literarum».

Destacam-se ainda compilações especiais por Gregório de Tours (Georgius Florentinus Gregorius) «História dos Francos libri X» e «Gildas», a História da Bretanha, e Venâncio Fortunato (Venantius Honorius Clementianus Fortunatus), um lírico, o Papa Gregório I (Gregorius I Summus Pontifex), que promoveu o canto eclesiástico, e Isidoro de Sevilha (Isidorus a Sevilla), com «Origines libri XX».

[editar] Sociedade

A progressiva cristianização dos povos ajudou a manter a língua latina, já que o fundamental era propagar o Evangelho. Porém, com a quebra da estrutura romana, o desenvolvimento tecnológico até então foi parado quase por completo. Na verdade, pode-se dizer mesmo que regrediu, em alguns casos. A cultura intelectual tornara-se um privilégio do clero, que dela se servia para os seus próprios propósitos, o que justifica que a literatura da época tenha um forte carácter reliogoso. As cortes teutónicas subsistiram, assim, como único refúgio para o espírito literário da Roma Antiga. É o Direito a disciplina que conservou os seus traços de vitalidade, e que esteve na base da constituição de novas nacionalidades, adaptando as leis antigas para a nova distribuição político-administrativa.

Algumas tentativas de adaptação foram precisamente o Édito de Teodorico, a Lex Romana Visigothorum e a Lex Burgundiorum.

[editar] Notas

[editar] Ver também

[editar] Bibliografia

[editar] Ligações externas

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