História do Egipto
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
- Nota: Se procura uma descrição detalhada da história da civilização faraónica, consulte História do Antigo Egipto.
A História do Egito corresponde a uma das mais longas histórias de um território do mundo.
Índice |
[editar] Pré-História
Durante o Paleolítico o clima do Egito sofreu uma alteração, passando de um clima húmido e equatorial para um clima seco. O processo de desertificação da região que é o hoje o Saara, concentrou no vale do rio Nilo as populações circundantes.
No quinto milénio o Vale do Nilo, já com as características climáticas actuais, conheceu uma série de culturas neolíticas (Faium, Tasa, Merimde...). Os habitantes do Egito domesticaram animais como o porco, o boi e cabra e cultivaram o trigo e a cevada.
O quarto milénio a.C. corresponde àquilo que a historiografia designa como o período pré-dinástico (ou proto-dinástico). Nele surge o cobre e na região do Alto Egito surgem sucessivamente três civilizações: a badariense, a amratiense e gerzeense. Esta última civilização acabaria por se difundir por todo o território do Egito.
[editar] O Egipto ptolemaico
Em 333 a.C. Alexandre Magno derrotou os Persas na Batalha de Issus, tendo no Outono do ano seguinte ocupado o Egipto, onde foi aclamado como libertador pelo povo. Antes de partir para novas campanhas militares no Oriente, Alexandre fundou na região ocidental do Delta do Nilo a cidade de Alexandria, que seria nos séculos seguinte a metrópole cultural e económica do Mediterrâneo e capital dinástica.
Alexandre faleceu em 323 a.C. não tendo ficado assegurada a sua sucessão. Nos anos que se seguiram os seus generais dividiram entre si império criado por Alexandre. Um destes generais, Ptolemeu, já instalado como governador do Egipto, tomou em 305 a.C. o título de basileus (rei), fundando a dinastia ptolemaica que governaria o Egipto até 30 a.C..
A última representante da dinastia ptolemaica foi a famosa rainha Cleópatra, que tentou restaurar a glória anterior do reino, aliando-se aos romanos Júlio César e Marco António. Os seus esforços revelaram-se inúteis, tendo sido vencida pelas forças romanas de Octaviano na Batalha de Ácio.
[editar] O Egipto romano e bizantino
Após a derrota de Cleópatra, o Egipto é integrado no Império Romano como uma província administrada por um prefeito de origem equestre que era directamente responsável pelo imperador. Augusto decretou a interdição de entrada de senadores ou de cônsules no território, uma vez que temia que estes se apoderassem deste. O primeiro prefeito que o Egipto conheceu foi Caio Cornélio Galo, que acabaria por cair em desgraça.
De acordo com a tradição, o cristianismo teria sido introduzido no Egipto por São Marcos, mas esta alegação não é sustentada pelas fontes históricas. Em finais do século III o Egipto já se tinha cristianizado. Em 324 o Concílio de Niceia institui o Patriarcado de Alexandria, que era segundo em importância após o Patriarcado de Roma, exercendo a sua autoridade sobre o Egipto e a Líbia. Em 451 o Concílio de Calcedónia condenaria a doutrina do monofisismo (segundo a qual Jesus após a encarnação tinha apenas uma natureza, a humana), gerando o cisma que separou a cristande egípcia (adepta do monofisismo) dos outros cristãos da época.
Em 395 o Império Romano dividiu-se em duas partes, ficando o Egipto inserido no Império Romano do Oriente, que mais tarde se chamaria Império Bizantino.
[editar] O domínio islâmico
A conquista do Egipto pelos árabes insere-se no movimento de expansão destas populações que se iniciou após a morte do profeta Muhammad (Maomé). Em 639, Amr ibn al As, lugar-tenente do califa Omar liderou uma expedição militar ao Egipto da qual resultou a expulsão definitiva do poder bizantino por volta de 642.
Amr instalou a capital do Egipto em Al Fustat, onde tinha existido uma fortaleza romana chamada Babilónia.
Ao longo dos séculos seguintes a população que habitava o Egipto acabaria por se converter ao islão e por adoptar como língua o árabe. Para a arabização do Egipto contribuiu a instalação no território de tribos oriundas da Península Arábica.
O Egipto tornou-se uma província do califado omíada até 750, ano em que este foi derrubado e substituído pelo califado abássida. Os Abássidas transferiram a capital do califado de Damasco para Bagdade, tendo o seu poder entrado em decadência em meados do século IX, o que permitiu a ascensão de dinastias locais em vários partes do império.
Ao longo dos séculos seguintes a população que habitava o Egipto acabaria por se converter ao islão e por adoptar como língua o árabe. Para a arabização do Egipto contribuiu a instalação no território de tribos oriundas da Península Arábica.
[editar] A dinastia tulúnida e ikhshidid
Em 868 Fustat recebeu como governador do Egipto Ahmad ibn Tulun, que inauguraria um período de autonomia egípcia face ao califado abássida. Em 878 Ibn Tulun invadiu a Síria, tomando as suas principais cidades e fortalezas. Ibn Tulun foi sucedido pelo seu filho Khumarawayh, que foi assassinado em 896. A menoridade do filho de Khumarawayh foi aproveitada pelos Abássidas para restaurar a sua soberania sobre o Egipto em 905, que regressaria ao seu estatuto de província.
Em 935 Muhammad ibn Tughj foi nomeado novo governador, tendo repetido os feitos de Ibn Tulun. Ibn Tughj, a quem o califa atribuiu o título de Ikhshid, conseguiu impor a ordem no Egipto, tendo o país retomado a sua influência sobre a Síria. Para além disso, Ibn Tughj conquistou as duas sagradas do islão, Meca e Medina. Os seus descendentes governaram o Egipto até 969.
[editar] Os Fatímidas
A dinastia dos Fatímidas surgiu na Tunísia em 906. Ao contrário do califado abássida, que seguia o sunismo, os Fatímidas eram partidários xiismo. Os seus membros consideravam-se descendentes de Fátima (de quem deriva o nome da dinastia), uma filha de Muhammad e esposa de Ali, quarto califa e figura central do islão xiita. Em 969 os Fatímidas conquistaram o Egipto, onde se instalaram na sua nova capital, a cidade do Cairo ("A Vitoriosa"), construída a norte de Fustat.
Durante a era fatímida o Egipto foi o centro de um império que na sua extensão máxima controlou o Norte de África, a Sicília, a Palestina, Síria, o Iémen e as cidades de Meca e Medina.
Os Fatímidas procederam a uma reorganização da administração do Egipto, tendo se verificado um importante desenvolvimento da actividade comercial. Para este contribuíram factores com a decadência do poder na Síria e no Iraque à qual correspondeu uma decadência das rotas comerciais que atravessavam esses territórios. O Egipto tornou-se assim uma alternativa para a passagem das rotas comerciais entre o Oriente e a Cristandade. Os Fatímidas controlovam os portos da costa africana do Mar Vermelho da qual chegavam os produtos da Índia e que depois transitavam para as cidades italianas.
[editar] O Egipto otomano (1517-1798)
Em 1516 e 1517, o sultão Selim I derrotou os Mamelucos e o Egito transforma-se numa província do Império Otomano, governada por um paxá nomeado anualmente. A autoridade do Império Otomano era escassa e os paxás tomavam frequentemente decisões à margem dos desejos do sultão, que se contentava em receber o tributo, apenas exigindo que as fronteiras fossem vigiadas para evitar qualquer tipo de intrusão. As antigas elites mamelucas conseguiram penetrar as estruturas administrativas e continuar a governar o Egito. Embora colaborassem com os otomanos por vezes desafiavam o seu poder. A este período corresponde um declínio econômico e cultural.
No século XVII desenvolve-se uma elite de mamelucos que usava o título de "bey", ao mesmo tempo que as guerras entre duas facções de mamelucos devastam o país. No século XVIII, Ali Bey e o seu sucessor, Muhammad Bey, conseguiram fazer do Egito um território independente face ao Império Otomano. Por outro lado, a situação econômica do Egipto degradara-se e a população conheceu uma fase de penúria e fome.
Neste contexto de um Egito debilitado, a França e a Inglaterra começaram a alimentar ambições em relação ao território. Em 1798 o general Napoleão Bonaparte invadiu o país para tentar desestabilizar o comércio inglês na região.
[editar] Mehemet Ali e os seus sucessores
Napoleão fugiu do Egito para França em 1799, deixando atrás um exército de ocupação. Este exército seria expulso pelos otomanos e pelos ingleses em 1801, terminado a breve ocupação francesa. O Egito conhece um período de desordem que acaba em 1805 quando um soldado albanês de nome Mehemet Ali toma o poder.
Depois de repelir a invasão inglesa de 1807, Mehemet Ali dedicou-se a acabar com as revoltas constantes dos Mamelucos que ameaçavam a estabilidade do país. Para atingir tal objectivo reúne-os na cidadela do Cairo em 1811 onde organiza o massacre destes.
Mehemet Ali declarou-se senhor do Egito, dono de todas as terras. Ajudado pelos franceses, organiza um exército moderno e criou uma marinha de guerra. Tomou também uma série de medidas que pretendiam modernizar a economia do país, ordenando a construção de canais e fábricas.
[editar] Independência
Em 1922 a Inglaterra concedeu a independência ao Egito e Ahmad Fuad tornou-se rei com o título de Fuad I. Esta independência era meramente nominal, uma vez que a Inglaterra reserva-se ao direito de intervir nos assuntos internos do país se os seus interesses fossem postos em causa. Em 1923 foi adoptada a constituição do país, que estabelecia uma monarquia constitucional como sistema político vigente. As primeiras eleições para o parlamento tiveram lugar em 1924 e delas saiu vitorioso o partido Wafd, cujo líder, Saad Zaghlul, tornou-se primeiro-ministro.
O Wafd tinha surgido como partido do desejo em libertar completamente o Egito do poder britânico. Em Novembro de 1924 o comandante do exército britânico no Egipto foi assassinado e a polícia descobre a partir das suas investigações ligações entre a morte do comandante e terroristas associados ao Wafd. Em consequência, o primeiro-ministro Zaghlul demitiu-se.
As eleições que tiveram lugar na sequência desta crise dariam de novo a vitória ao Wafd. O rei Fuad, que temia este partido, ordenou o encerramento do parlamento e em 1930, apoiado em políticos opositores do Wafd, impõe uma nova constituição ao Egipto, que reforçava o poder da monarquia.
Com a morte de Fuad em 1936, o seu filho, Faruk I, decide restaurar a constituição de 1923. Novas eleições deram a vitória ao Wafd, que formou um governo. No mesmo ano o Egito e a Inglaterra assinaram um tratado cujos termos levaram a uma redução do número de militares ingleses no país e cimentaram uma aliança militar entre as duas nações. Este tratado permitiu ao Egipto a entrada na Liga das Nações.
A Segunda Guerra Mundial fez com que a Inglaterra aumentasse a sua presença militar no Canal do Suez. Embora o país se tenha declarado neutro, muitos líderes nacionalistas egípcios desejavam uma vitória das potências do Eixo, que acreditavam livraria o país da presença inglesa. Em 1942, perante a ofensiva militar da Alemanha sobre a Líbia, o embaixador britânico no Egito pressionou o rei Faruk a nomear um governo do partido Wafd, uma vez que esta força política tinha assinado o tratado de 1936, dando uma maior segurança à Inglaterra quanto ao posicionamento do Egito no conflito. Nahas Paxá tornou-se primeiro-ministro e colaborou com os Aliados até ao fim da guerra. Porém o prestígio do Wafd no movimento nacionalista viu-se afectado e o partido perdeu muitos líderes. Numa tentativa de melhor a sua imagem junto da opinião pública o partido ordenou reformas na educação e promoveu a formação da Liga Árabe (1945).
Em 1948 o Egipto e outros países árabes tentaram sem sucesso impedir o estabelecimento do estado de Israel na região histórica da Palestina.
[editar] A era de Nasser (1952-1970)
Na noite de 22 para 23 de Julho de 1952 deu-se um golpe de estado organizado por uma facção do exército conhecida como os "Oficiais Livres", cujo chefe era o general Gamal Abdel Nasser. O rei Faruk foi obrigado a abdicar e como presidente do Conselho foi escolhido o general Muhammad Naguib, que não sendo membro dos "Oficiais Livres", foi escolhido devido à sua popularidade. Em Dezembro do mesmo ano foi abolida a constituição monárquica e em Janeiro do ano seguinte todos os partidos políticos foram proibidos. Naguib ascende à posição de primeiro presidente da proclamada República do Egito.
As simpatias que Naguib nutria pelos antigos partidos políticos e pela Irmandade Muçulmana fizeram com que crescesse a oposição à sua pessoa por parte dos "Oficiais Livres". Naguib acabaria por ser afastado da presidência e colocado sob prisão domiciliária, sendo substituído na sua função por Nasser, eleito como presidente em 1956.
Nasser assegurou a retirada dos soldados britânicos do Canal de Suez. A sua política externa ficou marcada pelo recusa do Pacto de Bagdade, uma tentativa britânica em criar uma frente anticomunista no Médio Oriente, na qual se integravam a Turquia, o Iraque, o Irão e o Paquistão contra a União Soviética. Foi também activo no movimento dos países não-alinhados, tendo participado activamente na Conferência de Bandung.
O ataque israelita à Faixa de Gaza (então controlada pelo Egipto) fez com que Nasser procurasse armas junto dos países comunistas, uma vez que as potências ocidentais se recusavam a vender armas ao Egito. Em Setembro de 1955 o Egipto assina um importante acordo sobre fornecimento de armas com a Checoslováquia.
Nasser decidiu também construir a barragem do Assuão, projecto que se inseria num plano de irrigação e de electrificação do país, procurando assegurar os empréstimos para a construção junto do Reino Unido, do Banco Mundial e dos Estados Unidos. Este país, inicialmente favorável, recusou-se a fornecer o empréstimo, ao qual Nasser respondeu com a nacionalização do Canal de Suez, acto que gerou uma intervenção conjunta da França e do Reino Unido. Israel uniu-se a estes dois países no ataque ao Egito, conseguindo conquistar a Faixa de Gaza e grande parte da Península do Sinai. Uma semana depois, os Estados Unidos e a União Soviética asseguraram nas Nações Unidas um cessar-fogo que obrigou à retirada dos territórios ocupados e a França e o Reino Unido sairam humilhados do episódio. Em 1958 o governou da União Soviética comprometeu-se a financiar a construção da barragem.
A crise do Suez fortaleceu a imagem de Nasser não só no Egito, mas em todo o mundo árabe. A 21 de Fevereiro de 1958 Nasser ratifica através de referendo a união do Egipto e da Síria, formando a República Árabe Unida, à qual se juntou o Iémen em Março do mesmo ano. Esta união foi dissolvida em 1961 devido a uma revolta na Síria.
Durante os anos 60, Nasser desenvolveu uma série de políticas socialistas. Em 1962 foi publicada uma Carta Nacional, na qual se previa a extensão do controlo do estado às finanças e à indústria. Segundo esta carta, o estado egípcio estaria fundamentado na existência de um único partido, a União Árabe Socialista.
[editar] O período Sadat
Com a morte de Nasser em 1970, sucedeu-lhe Anwar Sadat, que exercia o cargo de vice-presidente. Sadat seguiu uma política de reaproximação à Arábia Saudita, sem contudo se afastar da União Soviética. Em 1973 o país liderou a coligação de países árabes na Guerra do Yom Kippur, tendo o país conseguido um relativo sucesso, já que reconquistou a Península do Sinai e conseguiu a reabertura do Canal de Suez. A nível económico, Sadat promoveu uma política que se afastava do socialismo de Nasser, incentivando o investimento privado (esta política recebeu o nome de "Intifah", "porta aberta" em árabe).
Devido à crise económica que o Egito atravessava, Sadat teve que reduzir as despesas militares, orientando o país para uma política de paz. Em 1977 fez uma visita histórica a Israel e em 1978 o presidente assinou os Acordos de Camp David, que levaram à paz com aquela nação. Uma das consequências dos acordos foi uma aproximação do Egipto aos Estados Unidos, tendo o país beneficiado de ajuda financeira americana considerável. Porém, esta política de paz com Israel fez com que Sadat fosse odiado pelos vizinhos árabes; o país foi mesmo expulso da Liga Árabe. A 6 de Agosto de 1981 o presidente Sadat foi assassinado por um extremista muçulmano.
[editar] De Hosni Mubarak aos nossos dias
Sadat foi sucedido pelo general Hosni Mubarak, vice-presidente desde 1975, que continuou a política de paz do seu predecessor. Embora continuasse a aproximação do país aos Estados Unidos, verificasse também um distanciamento em relação a Israel e uma tentativa de reconciliação com os países árabes. Por volta de 1987 a maioria dos países árabes já tinha restabelecido relações diplomáticas com o Egito, que em 1989 foi readmitido na Liga Árabe.
A partir de 1990 os movimentos fundamentalistas islâmicos iniciaram uma série de ataques terroristas, que tinham como principal alvo os turistas ocidentais, com o objectivo de privar o país de uma das suas principais fontes de divisas. Foram também atingidos intelectuais seculares e a minoria copta. Em 1990 o presidente do parlamento egípcio Rafaat Mahgub é assassinado por fundamentalistas. O estado egípcio responde a estes ataques com detenções maciças, execuções e a declaração do estado de emergência.
Na Guerra do Golfo (1990-1991), o Egito tomou partido da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos que visava expulsar o Iraque do Kuwait. Em 1993 Mubarak foi eleito pela terceira vez presidente do Egito.
Em 1995 Mubarak consegue escapar a um atentado contra a sua vida na Etiópia. Em 1999 é reeleito como presidente para um novo período de seis anos, mediante eleições na qual é o único candidato. O presidente defende a luta contra o desemprego que em finais de 1999 atinge 1,5 milhões de egípcios.
No ano 2000 o Papa João Paulo II visita o Egito, pedindo desculpas pelo comportamento da Igreja Católica Romana contra os muçulmanos no passado.
Nas eleições para a Assembleia do Povo em Outubro e Novembro de 2000, consagra-se como vencedor o partido do governo, o NDP.
Em Setembro de 2005 Hosni Mubarak foi reeleito presidente com 88,6% dos votos, numas eleições consideradas históricas pelo facto de terem sido autorizados outros candidatos. A oposição considerou as eleições uma fraude.