Guaranis
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O termo guaranis é designação de um grupo indígena que habita o estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, e Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, onde se divide nos subgrupos caiouá, embiá e nhandeva. Entretanto, no passado esse grupo, subgrupos ou parte deles foram conhecidos também como araxás, cainguás, carijós, guaianás, ouitatins. Atualmente, os guaranis vivem também na Bolívia e no Paraguai.
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[editar] História
Durante mais de 400 anos de referências escritas sobre os Guarani, muitos nomes alternativos têm sido empregados para identificar estes vários povos, bem como para indicar suas visíveis diferenças. Atualmente as populações Guarani estão divididas em quatro grupos sub-étnicos distintos - Kaiowá, Nhandeva, Mbyá e Chiriguano - de acordo com as diferenças dialetais, costumes, organização sócio-política, orientação religiosa, assim como formas específicas de interpretar a realidade vivida e de interagir segundo as situações em sua história e em sua atualidade.
No início do século XVI, época dos primeiros contatos com os conquistadores europeus, a população Guarani provavelmente chegava ao número de 1.500.000 a 2.000.000 de pessoas, ocupando juntamente com outros grupos étnicos, em relações mais ou menos amistosas, uma faixa territorial que tinha como limites ocidentais o sul e o leste do atual estado boliviano até a faixa central da Argentina, e como limites orientais, o litoral sul do Estado de São Paulo, no Brasil, até as terras circunvizinhas à foz do Rio da Prata, abrangendo, desta forma, a totalidade dos territórios meridionais brasileiros, bem como os atuais estados nacionais do Uruguai e do Paraguai.
“Durante o processo colonial, a queda demográfica alarmou os próprios governantes, províncias inteiras, especialmente as que caíram sob o domínio dos encomendeiros e as que sofreram periódicos ataques dos bandeirantes paulistas em busca de escravos, foram destruídas. A província do Guairá, por exemplo, que contou com mais de 200.000 índios (e talvez até 800.000), foi reduzida a praticamente nenhum habitante”.(Melià 1985, 295)
Graças a drástica queda demográfica, as populações Guarani contemporâneas vivem em pequenas reservas ou habitam espaços geograficamente isolados. Estas, no entanto, mantiveram a configuração de seus territórios observados no período colonial - com exceção dos territórios localizados nos atuais estados do Uruguai e do centro da Argentina. – conservaram também, apesar do contato antigo e intenso durante todo o processo de conquista da América, sua unidade lingüística e cultural, sua visão de mundo e seus costumes.
“Três aspectos da vida Guarani expressam uma identidade que dá especificidade, forma e cria um "modo de ser guarani": a) o ava ñe'ë (ava: homem, pessoa guarani; ñe'ë: palavra que se confunde com "alma") ou fala, linguagem, que define identidade na comunicação verbal; b) o tamõi (avô) ou ancestrais míticos comuns e c) o ava reko (teko: "ser, estado de vida, condição, estar, costume, lei, hábito") ou comportamento em sociedade, sustentado em arsenal mítico e ideológico. Estes aspectos informam ao ava (Homem Guarani) como entender as situações vividas e o mundo que o cerca, fornecendo pautas e referências para sua conduta social” (Susnik, 1980:12).
Graças aos processos de extermínio que sofreram (visando à re-colonização e europeização da população, implementadas em boa parte dos territórios americanos e observadas no contexto sul-americano em suas formas mais radicais na Argentina e no Uruguai), os povos Guarani constituem populações minoritárias, muitas vezes invisibilizadas, nos diversos contextos regionais em que se encontram. As pressões e tentativas de controle de suas dinâmicas sociais e territoriais por parte das sociedades nacionais são constantes, no entanto, os diferentes grupos desenvolveram táticas particulares de adaptação às novas realidades, formas distintas de relacionamento com as diferentes nações com as quais mantém contato.
Os Guarani, enquanto identidade étnica, constituem através de sua totalidade, ainda nos dias de hoje, uma das maiores etnias indígenas do Brasil e da América do Sul.
[editar] Fontes
CADOGAN, Leon. Ayvu rapyta : textos míticos de los Mbyá-Guaraní del Guairá. São Paulo : USP, 1959. 218 p.
CLASTRES, Hélène. Terra sem mal : o profetismo Tupi-Guarani. São Paulo : Brasiliense, 1978.
CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado (pesquisas de Antropologia Política). Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1978.
LADEIRA, Maria Inês & AZANHA, Gilberto. Os índios da Serra do Mar. Centro de Trabalho Indigenista, São Paulo, 1988.
MELIÁ, Bartomeu. El guaraní : esperiencia religiosa. Assunção : Ceaduc/Cepag, 1991. 128 p.
NIMUENDAJÚ, Curt. As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guaraní. São Paulo : Hucitec ; Edusp, 1987. 156 p.
SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentais da cultura Guaraní. São Paulo : EPU ; Edusp, 1974. 208 p. Originalmente Tese de Livre Docência, São Paulo : USP, 1954.
SUSNIK, Branislava. Los aborigenes del Paraguay. V. 2: Etnohistoria de los Guaranies. Assunção : Museo Etnográfico “Andres Barbeiro”, 1982.
[editar] Ver também
- Guarani Missioneiro
- Guarani Paraguaio
- Mitologia Guarani
- Guerra Guarani