Frans Post
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Frans Janszoon Post (Leyden, 1612 — Haarlem, 1680) foi um pintor dos Países Baixos.
Junto com Albert Eckhout, é considerado o mais relevante artista neerlandês a serviço de Nassau na comitiva que o acompanhou ao Nordeste do Brasil em meados do século XVII.
Chegou ao Brasil em 1637, com 24 anos de idade, e tomou parte em diversas expedições, com o objetivo de montar uma grande coleção de desenhos com motivos brasileiros para o seu mecenas.
[editar] Biografia
Pouco se sabe sobre a vida de Frans Post. A principal fonte de informação é a obra “Groote Schouburgh der Konstschildeus em Schilderessen” (1719) de Arnold Houbraker. Esta, por sua vez, foi baseada em diversas biografias, registros de corporações e igrejas, e também anedotas e episódios de pintores neerlandeses da época em que viviam nos Países Baixos em fins do século XVII, com quem teve contato pessoal. O que apareceu nos léxicos de artistas de Immerzeel a Thieme-Becker sobre Post é repetição das magras informações de Houbraker. A contribuição de Thime-Becker foi ter juntado alguns dados novos e trazido uma lista mais extensa de quadros.
Frans Post, o terceiro filho do casal Jan Janszoon Post e Francyntie Peters, nasceu em 1612 em Leyden, nos Países Baixos. Seu pai e mãe eram provenientes de Leyden. Casaram-se em 1604 e mudaram-se para Haarlem onde Jan Jansz pintava vitrais. O primogênito do casal foi Peter, nascido em 1608. O segundo é Anthoni, de 1610 e a última Johanna, que nascera pouco antes do pai falecer, em novembro de 1614. Sua mãe casou-se novamente em 1620 com Harman van Warden, que foi mau marido e abandonou o lar pouco depois. Que escolas o jovem Frans freqüentou e com quem aprendeu a pintar não se sabe. Segundo Houbraken, dedicou-se à profissão do pai até a partida para o Brasil, informação esta que parece não encontrar apoio nos fatos.
O mais velho dos irmãos, Pieter, trabalhou com o célebre arquiteto do renascimento paladiano, van Campen, apontado como o construtor de Mawitshuis, em cuja decoração interior Pieter também colaborou. Van Campen era amigo do influente secretário do príncipe Frederico Henrique e também seu conselheiro em assuntos de arte.
O constante estado de guerra em que se encontrava Pernambuco, o desespero que reinava entre os habitantes das capitais e ainda a elevada soma de dívidas foram fatores que levaram a reforma do sistema de governo neerlandês na cidade do Recife. Após os entendimentos de Frederico Henrique de Orange e os Estados Gerais, foi indicado para ocupar o cargo de Governador, que ia ser criado, o Conde João Maurício de Nassau Siegen quem achava-se em estreita relação de parentesco com a Casa de Orange.
Quando nomeado Governador do Brasil, terá sido por indicação de Pieter que o Conde (para quem Pieter já trabalhara na contrução do Palácio de João Maurício) engajou seu irmão Frans, convite este que seria para o jovem pintor de 24 anos, artista ainda obscuro, o augúrio de uma carreira prestigiada pela proteção oficial dos Oranges, numa época em que a prosperidade dos Estados Gerais transformou a corte dos Stadhouters em centro de proteção às artes e de grande atividade construtora. Os dois Posts passaram a ser protegidos de Mecenas e da casa reinante, da qual receberam encargos.
Enquanto esteve no Brasil, Frans acompanhou o Governador em suas campanhas e teve residência no Palácio das Torres. Parece que ao longo do percurso, tornou-se amigo intimo de Nassau.
Das suas atividades no Brasil, o mais importante depoimento é, contudo, o livro famoso para o qual Frans desenhou numerosas vistas de portos e fortificações, do Maranhão à Bahia. Embora datados de 1645, ou seja, depois do seu regresso à Europa, mostram tal segurança e exatidão topográfica que deixam bem claro terem sido copiados de telas ou esboços feitos d’après nature.
Durante a sua estadia no Brasil só existem seis quadros. São as vistas de Itamaracá, de Porto Calvo, do Forte dos Reis Magos, do rio São Francisco e da ilha de Antônio Vaz, pintados do natural. Um sétimo e mencionado em catálogos de leilões do século XVIII, correspondendo à prancha do Palácio das Torres. Seria estranho que durante sete anos não tivesse Post produzido mais.
Em julho de 1644 estava de volta a Haarlem, fixando-se em Smeetstraat. Casou-se no dia 27 de março de 1650, na Igreja de Sandvoort, com Jannetye Bogaret, também de Haarlem, residente em Koninckstraat, filha do professor Salomon Bogaert. Faleceu Jannetye a 7 de agosto de 1664, deixando-lhe três filhos: Anthoni, Jan e Rachel. Prost morreu em 18 de fevereiro de 1680 e foi enterrado no Groote-Kerk de Haarlem.
[editar] A Obra
A pintura de gênero (pintura de genre), holandesa por excelência, promana da arte da iluminura e das gravuras góticas em madeira. Daí herdar sua escala reduzida e ingênua minuciosodade, quando transposta para o óleo. Também a escola paisagista descende da mesma arte miniaturista, tal como a flamenga sua vizinha, que a precedeu, representada pelos Brueghel e seus corifeus, mas da qual se emanciparia, no século XVII, brusca e triunfalmente. Não houve, pode-se dizer, primitivos nos Países Baixos. De uns raros praticantes, incluidos, aliás, entre os flamengos, desabrocha de uma feita a arte neerlandesa, à sua plenitude e firma o seu caráter fortemente nacional.
Sobravam-lhe, sem dúvida, elementos para essa pronta autonomia. Conquistada a sua indenpendência contra a tirania espanhola, com uma inclinação, toda protestante, para as artes domésticas, toma o neerlandês o seu país por assunto e dedica-se de corpo e alma à pintura.
Ao passo que na iluminura a paisagem era apenas um acessório, pano de fundo para as cenas representadas, sem vida ou significado próprio, a observação dos céus nublados, o jogo do claro-escuro, tornaram-se o principal tema do artista, que assim adquiria um instrumento mais apto a exprimir-lhe as emoções, ao reproduzir na tela os campos e moinhos, as barcas bojudas que povoam os rios, as harmonias que os seus olhos surpreendiam nos crepúsculos primaverís ou de inverno. É na obra de Vroom que primeiro assistimos a essa transição do céu límpido da iluminura para céus mais realísticos de quem observa a natureza.
A parte vital, por assim dizer, da paisagem neerlandsa foi a percepção que ela teve do efeito do céu sobre o mar e sobre a terra e da inter-relação da luz com as nuvens, que lhe imprime a sensação de fluidez e de movimento incessante.
Dos cento e poucos quadros de Post, até agora conhecidos, trinta e dois são assinados e datados, e quarenta, apenas assinados. Pelos primeiros é possível acompanhar a evolução do artista.
As datas limites são 1633 - quando Post tinha 21 anos - e 1669, em que contava 57, dentro todas do grande século da pintura neerlandesa e particularmente, da escola de Haarlem.
Poucos quadros são a este atribuídos anteriores à sua partida para o Brasil. De certo, só se conhece, assinada e datada de 1633, uma paisagem rural neerlandesa, que revela desde logo as qualidadades que marcarão a sua obra: observação exata, sentido da composição e sobriedade do colorido.
Quando isolado dos seus contemporâneos, fiel embora às linhas mestras da pintura neerlandesa - o sentimento do espaço e a preponderância do céu - Post, em plena mocidade, deixa-se dominar pela novidade do ambiente. Transportado de chofre para uma paisagem virgem, tal como o seu companheiro Eckhout, impressiona-se com o cenário, aplica toda a sua probidade a fixar objetivamente na tela, os aspectos inéditos dos trópicos. Destaca, com rigoroso desenho, os coqueiros e mamoeiros, as plantas caprichosas, os bichos estranhos, todo um mundo de sensações novas que excitam a sua curiosidade dos temas, o tratamento minucioso das árvores, a ingenuidade e o caráter curiosamente moderno.
De regresso a Haarlem, Post trabalhou na instalação da obra histórica de Barleus. Terá sido essa honrosa incubência, qual a de elaborar trinta e tantos desenhos, ocupando-o durante o ano de 1645, que firmou a sua vocação de especialista em paisagens brasileiros, na qual se comprazia toda a vida.
A partir da entrada para o Gilde, a maneira de Post transformou-se. A composição permanace a mesma, mas o repoussoir do primeiro avoluma-se em tufos espessos, povoados de animais e salpicados de notas exóticas - pássaros ou gravatás - um arranjo de cenário, em que sobressai de mulado, a palmeira ou o mamoeiro, para acentuar a cor local e a autenticidade. Emprega uma grama mais variada de tons. Concentra a luz sobre o fundo da paisagem. As figuras, em escala menor, perdem a rigidez contrafeita, espalhando-se pelo quadro, indicadas com pinceladas rápidas e nervosas, como os perfís das palmeiras que se esfumam contra horizontes mais luminosos. O que a sua obra perde em originalidade e força, ao amaneirar-se deste modo, ganha em mestria e virtuosismo.
Com preocupação bem neerlandesa de retratar a fisionomia do país e, graças a uma invejável memória visual, executa anos a fio, na calma de seu atelier, variações nostálgicas sobre motivos colhidos in loco. Transpõe e combina esses elementos ao léo da sua fantasia. Constituido o estoque de fórmulas, modifica-se à vontade, mas os quadros filiam-se uns aos outros, repetem-se a meúde, processo comum aos paisagistas neerlandeses, haja vista os inúmeros moinhos de Hobbema, as cascatas de Ruisdael. Sob esse aspecto, sua obra apresenta mesmo uma variedade que não é frequente entre os pintores de todas as épocas.
Post pintava com pinceladas ligeiras. Só as folhas das árvores destacam-se recortadas com um pouco mais de impasto. Irradiam em todas as direções, subtraídas à ação do vento. É certo que ele preferia representar no primeiro plano as ramages duras da flora de caatinga. As folhas do mamoeiro são as que melhor lhe saem: empastadas, reluzentes, em relevo sobre o resto da vegetação.
A preparação da madeira era feita com pincel fino e a camada preliminar nem sempre branca, o que concorreu para escurecer com o tempo muitos quadros. Alguns parecem pintados diratamente sobra a madeira, tão ligeira era essa camada, que lhe deixa ver os veios. Tal foi, aliás, a maneira de pintar do tempo - apogeu da arte holandesa - que assegurava a regularidade da superfície, uma das exigências academicas.
O desenho é sempre perfeito e sólido, a composição é que muitas vezes perde a verossimilhança, resultando os acessórios mal arrumados na paisagem. Post abusava desses recursos. Mais de uma agradável composição foi prejudicada pelo excesso de lagartos e tatus, pelas cobras que engolem gambás, ingenidades que fazem sorrir e perturbam a serenidade da paisagem. As figurinhas porém dão vida à composição com suas notas álacres, pequeninas cenas "de genre".
Post criou uma maneira pessoal, bem caracterizada na sua madureza. Firmando ela, assumiu a obra uma homogeneidade que se assinala pelo verde-azulado da vegetação longínqua, que tão bem acentua a sensação de perspectiva aérea.
Viveu o mestre à margem dos grandes neelandeses: Seghers, Ruisdael, van Goyen, que, ao redor de Rembrandt, levaram como ele vidas atribuladas.
Burguês de quatro costados, com o ganha-pão assegurado, faltou-lhe o senso da emoção e do drama, para adquirir a largueza e o domínio do espaço daqueles artistas. Ficou post alheio à irradiação todo poderosa do mestre de Amsterdam. Os pintores com os quais mais se aparenta são Koninck, cujos quadros apresentam as mesmas planícies verdes, flutuando no horizonte, e van der Hazen, de quem terá imitado a concatenação das ondulações do terreno e das matas, de modo a formar a alternância regular de manchas claras e escuras, características da sua obra final.
O ano de 1669, do último quadro datado, não encerra certamente a carreira de Post, nem corresponde a uma fase que se possa chamar de decadência, mas em que a paleta do pintor se torna mais sutil e retrocede aos tons intensos e esmaltados da escola flamenga, com a típica coloração azul de Breughel de Velours. Contra céus de cobalto, destacam-se nimbus luminosos e horizontes avermelhados. A paisagem suave e macia está bem longe do realismo dos primeiros trabalhos. Sua pincelada, cada vez mais tênue, estabelece as relações entre os acidentes naturais, o céu e as núvens, no mesmo gesto horizontal; palmeiras lânguidas frisam a nota sentimental.
Até o fim, foi Post aperfeiçoando a sua técnica, apurando suas faculdades pictóricas. As obras dessa fase final são das que revelam mais sensibilidade. Enquanto sua preocupação dominante fora a reconstituição do quadro exótico, o maior mérito do artista consistia na perfeição linear, na exatidão topográfica à medida que melhor apreende a mútua penetração da cor, da luz e da forma, não é mais o contorno de cada elemento que destaca, senão a lírica interpretação da paisagem. Na atmosfera se fundem, em perfeito idílio, terra, ar e água. As suaves graduações da luz escondem a precisão das perspectivas, unindo com segura contextura as colinas distantes e a massa vegetal do primeiro plano. A paisagem pernambucana, estilizada, espiritualiza-se no quadro sobre a bruma da Varzea, noutra quintessência do período azul que é o lindo quadrinho de 1669 da coleção Greg.
Se os quadros da segunda maneira não tem o valor topográfico dos da primeira, não passando de variações sobre motivos brasileiros, são contudo uma reconstituição fiel das atividades em torno do "banguê" e da cultura da zona da Mata, em Pernambuco, Post entra para a história como o pintor por excelência do açúcar.
O Instituto Ricardo Brennand, no Recife, possui quinze quadros de Post. Sua coleção é considerada a maior do mundo. É a única instituição que conseguiu reunir obras de todas as fases da carreira do pintor holandês.