Dom Casmurro
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Dom Casmurro é um romance do escritor brasileiro Machado de Assis. Foi publicado em 1900, e é um dos livros da literatura brasileira mais traduzidos para outros idiomas.
É uma obra do Realismo brasileiro.
Helen Caldwell, crítica norte-americana, autora de três livros sobre Machado, considera Dom Casmurro o Otelo brasileiro.
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[editar] Enredo
A história se passa no Rio de Janeiro do Segundo Império, e conta a trajetória de Bentinho e Capitu. É um romance psicológico, narrado em primeira pessoa por Bentinho, o que permite manter questões sem elucidação até o final, já que a história conta apenas com a perspectiva subjetiva de Bentinho.
O romance Dom Casmurro além de estar entre as grandes obras da Literatura Brasileira, é considerado como a obra-prima de Machado de Assis.
[editar] Análises da obra
Em Dom Casmurro, encontramos a dúvida sobre a existência do adultério de Capitu, não havendo nenhuma cena que o comprove, permanecendo apenas como suspeitas. Sendo escrito em primeira pessoa, apresenta apenas a interpretação dos fatos presenciados pelo narrador-personagem, não apresentando em nenhum momento outras visões. O fato de o autor escrever o romance em capítulos curtos, com títulos explicados posteriormente e de utilizar citações de obras importantes e personagens históricos, em frases curtas, facilita a leitura e prende o leitor.
Machado de Assis permite, ao deixar o final com uma questão em aberto, que um mesmo leitor retome o livro e tire diferentes conclusões a cada vez que o relê.
[editar] Metalinguagem
Em Dom Casmurro, Machado de Assis enquanto narra, discute o ato e o modo de narrar. Ele põe em prática a metalinguagem, em que a própria narrativa trata de se auto-explicar. Logo no início, a metalinguagem ganha corpo, quando o personagem-narrador explica o título do livro e os motivos que o impulsionaram a escrevê-lo: Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores, alguns nem tanto. E mais adiante: Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. Durante toda a narrativa de Dom Casmurro, a metalinguagem tem um papel fundamental, dando um tom muitas vezes jocoso, ou criando cumplicidade com o leitor, que ao invés de apenas ler passivamente, participa do próprio ato de narrar, ao servir de confidente do escritor, transcendendo o próprio texto.
[editar] Alguns exemplos
- Ao narrar as tentações vividas na juventude dirige-se a uma possível leitora: ’’Tudo isso é obscuro, dona leitora, mas a culpa é do vosso sexo, que perturba assim a adolescência de um pobre seminarista’’.
- Ao dar uma explicação, dialoga com o leitor dizendo: ’’Não sei se me explico bem. Suponde uma concepção grande executada por meios pequenos.’’
- Depois de longa narração preliminar, chega ao ponto em que vai narrar o casamento e diz: ’’Pois sejamos felizes de uma vez, antes que o leitor pegue em si, morto de esperar, e vá espairecer a outra parte; casemo-nos.’’
[editar] As fases do romance
A ação do livro acontece em duas fases, a primeira vai da adolescência de Bentinho com a decisão de seus familiares que, por uma promessa feita por sua mãe, ele deveria tornar-se padre. O convívio com Capitu e a luta para se unir a ela, contrariando a vontade dos familiares. O casamento, o qual torna Bentinho um homem lutador que busca por seus sonhos. A segunda parte trata desde sua separação de Capitu, por causa da desconfiança sobre a paternidade do filho, até o seu fim solitário, como homem frio que esqueceu sua luta para conquistar Capitu.
[editar] As duas pontas da vida
No desenvolvimento do romance, o narrador diz que tentou “atar as duas pontas da vida”, a juventude e a velhice, ou nascimento e morte. Essa tentativa fica evidente em algumas de suas atitudes, descritas a seguir:
- Relembrar sua história enquanto jovem, e tentar reviver as lembranças após a parada para analisar sua vida e perceber que talvez estivesse errado.
- O relacionamento paradoxal com Escobar, que sendo amigo era também um fantasma na vida conjugal, pois Bentinho acreditava que ele era o amante de Capitu.
- Os sentimentos antagônicos em relação ao filho Ezequiel, por sua semelhança com Escobar.
- A construção de uma casa idêntica à antiga casa da Rua de Matacavalos onde viveu quando criança
[editar] O enigma
Pela narração não há como afirmar se houve ou não adultério. Os fatos deixam dúvidas, pois a semelhança de Ezequiel com Escobar, o fato de Escobar ser muito amigo de Capitu e sempre rondar a família levam o leitor a pensar que houve a traição. Por outro lado, a amizade de Capitu por Escobar não seria amor carnal, mas um amor fraterno, o seu amor por Bentinho desde a infância e a sua luta por ele, além do fato dele não ter visto a traição, levam o leitor a acreditar em sua fidelidade. O leitor pode supor que Bentinho fosse ciumento e imaginasse os fatos. Não há comprovação de nada, afinal a visão dos fatos é parcial, já que Bentinho que narra a história como a vê.
Há divergências sobre a traição de Capitu. Várias teses acadêmicas já abordaram o assunto e nenhuma chegou a uma análise conclusiva. Em páginas mais avançadas deste clássico da literatura brasileira, o autor deixa claro que o filho de Bentinho com Capitu era quase idêntico ao seu amigo Escobar, só que um pouco mais baixo e nas páginas iniciais da obra, o autor descreve Capitu como tendo muita facilidade em disfarçar as situações, inclusive enganando seus pais que tanto amava muitas vezes, o que fortalece a hipótese de adultério.
[editar] Ligações externas
- Dom Casmurro na Biblioteca Digital MetaLibri
- Dom Casmurro na íntegra
- Machado de Assis (Academia Brasileira de Letras)
- Obras de Machado de Assis para leitura na Internet
- Obras de Machado de Assis para download
- Artigo: A IMPORTÂNCIA DA CULPA EM DOM CASMURRO
- Algumas opiniões sobre a polêmica do adultério
- Capitu: inocente ou culpada? - artigo
- O outro lado - por Millôr Fernandes
- Dom, filme lançado em 2003, baseado no livro.
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